Sunday, October 05, 2008

Iluminado.

Ela disse que eu brilhava
que eu era o homem
mais iluminado da festa.
Bem, eu estava parado
com um copo de uísque
numa mão
e um de cerveja em
outra.
E eu estava na lama
opaco
sujo, sem graça
podre.
Mas ela disse que eu
brilhava. Ela era louca, com
certeza. Mas, enfim,
ela disse que eu era iluminado.
E eu conversei
com ela, e ofereci um cigarro.
Um Camel.
Ela aceitou, e o cigarro
ficava lindo em sua boca.
E sua franja
escondia seus olhos
e seus olhos
esses sim
brilhavam.
E durante a conversa
meu corpo se aproximava do
dela
e o dela
do meu.
E fomos assim, chegando mais
e mais perto.
E nos beijamos.
Um ótimo beijo.
Eu
realmente estava iluminado.
"Meu ex-namorado é
meio ciumento",
sussurou.
Não dou bola pra isso, não importa.
Mas que nada
ela foi embora, e seu número
não é o dela. E
eu já não brilho tanto assim.
E eu estou na lama
opaco
sujo, sem graça
podre.

Monday, October 01, 2007

O Banco e o Picolé.

Sentado num banco,
de cigarro entre os dedos
escrevo... escrevo...
E nem sei o porquê.
Acho que para fingir
sentir
um sentimento qualquer.
Não como um poeta
fingidor.
Mas a dor, essa eu sinto, juro.
Só busco um sentimento
como qualquer outro
de pé
chupando um picolé qualquer.

Sunday, August 26, 2007

Um dia.

Ele tentava, e muito. Mas nada dava certo. Ninguém sabia o porquê. Menino bom, não usava drogas, bebia- realmente - socialmente e trabalhava feito condenado. Mas nada dava certo. Nunca apostou, e sempre perdeu. Perdeu a vida, a sorte, mulheres, orgulho. E caminhava feito um morto.
Sentia-se mal a todo o momento. Caminhava de volta pra casa, dois quilômetros, todo o santo dia. Sentia-se cansado, toda a hora. Não via a hora de tudo acabar. Mas nunca pensou em acabar ele mesmo. E ninguém sabia o porquê dele ser, assim, tão forte. Menino magro, de cara pálida, sem cor alguma, só apatia nos seus olhos. Quando tinha tempo para fazer tudo o que queria, fazia nada. Ficava em seu quarto. Olhando o nada.
Um dia perdeu a vontade de ser o que não era. Sentiu-se bem. Com o que era. Um perdedor. Nesse dia encontrou sua colega de trabalho no meio da caminhada. Não era a primeira vez. Mas pela primeira vez, ela parou. Ofereceu-lhe carona. Ele entrou no carro sorrindo, sorrindo à vida. Conversaram muito pelo caminho. E quando ela perguntou o que ele gostava de fazer não soube o que dizer. Nunca sabia o que dizer, mas nunca isso o havia encomodado tanto. Parou, pesnou, parou e pensou mais um pouco. E com os lábios trêmulos respondeu:
-Gosto de não ser eu.
Sua colega espantou-se. E sorriu. Com as mão trêmulas acariciou sua cabeça. E disse:
-Que bom, finalmente alguém normal.
O pobre homem nunca foi tão feliz, e aceitou-se, pelo menos, naquele minuto.
Hoje não mora no mesmo endereço, não trabalha no mesmo lugar. Ninguém sabe onde ele está. A última notícia que tivemos dele é um pedaço de pelapel que restou no seu apartamento, que dizia:
"A normalida é uma merda".

Sunday, August 19, 2007

Nada mais.

Sozinho no campo
de imensa imensidão
do vazio
do escuro.
Só eu.
Minha cabeça gira,
como quiser,
gira.
E não vejo nada
nada é tudo que tenho.
E nada é tão bom assim.
Eu caminho no verde cor de sangue
de um pasto inexistente.
De uma vida
que inda passa
até passar.
Nos versos de um papel sujo
me perco e
nada é tão ruim assim.
Tudo é o que parece.
Nada podia ser mais triste.
A realidade se faz de fantasia
para cortar meu pulso.
E nem reflexo eu tenho.
Nada.
Só geada no pasto que não há.
Uma cacheira azul de sangue corre
e o barulho me deixa mudo.
Eu grito, um grito silencioso.
Como a da árvore na floresta vazia.
Vazio é meu peito
no meio de rostos estranhos,
que, nem ao menos,
alí estão,
só solidão.
E nem sei
o que é
nada
é o que é:
tudo
nada mais.

Sunday, July 08, 2007

Amém


O peito aberto
espreita a saída
mais dolorida
de um mundo
abstratò.
À droga
oremos
à droga.
Pedimos o nosso perdão.
Somente os fortes
sobrevivem,
à droga
amém.
Sem céu,
sem terra,
sem ar
o mar
espreita
o vazio.
Enquanto isso,
o cigarro
queima
a vida
queima
à vida.
Àquela que me fez
eu mato,
e grito
"perdão"
à droga
à ela
todos nós
morreremos,
sobreviverei
até morrer,
à dor
eu sussurro
amém.
Sem nada.

Sem sentido
sem destino
sem amor
sem vida.
Só a dor.
Há vida nisso tudo?
"sem amor eu sigo bem"
e ninguém acredita
no homem, menino
que já tanto errou.
Sentimento absurdo
a dor
sentimento âmago
do horror
a si próprio.
E a vida
anda, assim,
solta
sem coleira
nem fucinheira
pronta pra cheirar nosso cu,
foder, mesmo que nossa perna,
e morder no mínimo descuido.
A vida, propriamente
dita,
é a merda boiando
no esgoto
de um coração sedento
por sangue.
Conversa com o poeta.


O caminho leva à vida
a vida.
"Qual caminho
é esse?",
Perguntam os bêbados
com a alma perdida,
as putas com seus vestidos
tigrados
e seus olhares decadentes.
O caminho leva
para algum lugar
mas não há caminho
neste.
Não há saída
nem entrada.
Não há meio.
Só meios de encontrá-lo.
Responde o poeta
bêbado
e perdedor.
"Como assim?"
Perguntam as idiotas
caminhando e comprando no shoping
com seus vestidos tigrados
que se diferem por
apenas
uma etiqueta ao das putas.
Seu olhar superior, me parece ainda mais decadente.
Cada um
cada idiota
cada puta
cada bêbado
cada ladrão
cada político
cada advogado
tem um jeito de viver
e se ser feliz é o objetivo,
eu me junto aos bêbados.
Mais uma vez
responde
-sem responder-
o poeta decadente.

Wednesday, July 04, 2007

Não sei.

O destino gira
gira em torno dele mesmo.
Como Sol, sem ser estrela.
Estrela de si só
estrela solitária
no meio de outras
estrelas solitárias.
Sem força ele acaba parando.
E com ele
nós
paramos e morremos.
E dizem que voltamos...
isso eu não sei.
Isso eu não sei!
Mas quem sabe?

Friday, April 20, 2007

O cigarro
já na boca.
O papel
em branco.
Nenhum pensamento
nada de merda
sangue
ou desilusão.
Será que
minha vida
finalmente
não serve
mais
para nada?
Será que
já serviu?
Eu enrolo o papel,
eu me enrolo,
minto para mim
mesmo
para ser feliz.
E isso é
realmente
patético.
Mas
talvez
alguém goste
dessa merda
de poesia
falsa.

Passo, meio passo... sem vida

Ruídos de carne
caindo.
Sem
uma gota
de sangue.
Sangue entra
na garganta.
Líquido fértil
dos assassinos.
A atitude voraz
de um ser
sem alma.
Na escuridão
à meia luz,
num bar
pronto para matar
de novo.

A vítima
"inocente"
anda com seus
milhões de pecados
nas costas.
E sua estúpida
tranquilidade.
No meio do passo
sente um golpe.
Sente a visão acabar.
Sente a carne
cair.
Seu sangue
não sente.

O assissino
louco
corre.
A vítima escuta
os passos se afastarem.
Os passos de quem não
o deixou
ao menos,
terminar o seu último.
Ainda
com um resto
de vida
se aconchega no chão
e chora baixinho
pensando em como
sua vida
foi inútil.

Eu, errante erro.

Errante eu
vou
de erro
em erro
à vida.
Sou eu sim
errante
bêbado
desajustado...
um ser normal.
Mas mesmo errando
eu
errante
tomo cuidado
para não
machucar
alguém.
Mas machuco
eu
ó estúpido errante
todos que amo
pelo medo de amar
pelo pavor de não
ser amado
e
ser amado meu
longe
observa meus erros
erros idiotas
de um errante
com o desprezo
de um
olhar
amistoso.

Lama.

A alma
se foi
eu não vi.
A alma
se foi
eu não ri.
Se foi
a alma
chorando, dor
senti.
Se foi
a alma
se foi
minha vida
se foi
o sentimento
eu sei
que vivi.