Monday, January 29, 2007

Sempre a mesma...

O cheiro de vômito era insuportável. Eu não sabia onde estava, tão pouco a quanto tempo. Fiz um grande esforço para levantar minha cabeça, e não sei de onde tirei forças para abrir os olhos. "Tudo fora do lugar. Parece que houve uma briga aqui. Manchas vermelhas na parede? Será sangue? "Queria fugir! "Estou louco. Minhas pernas não se movem. O que eu fui fazer desta vez?" Achava não ser capaz de falar mas consegui. Gritei. Gritei alto. Escutei, então, uma voz de mulher, uma voz calma e distânte.
Rolei para cair da cama. "Manchas de vermelhas pelo carpete. Ondeu eu fui me meter? Só o que faltava mesmo, matar alguém..." Com grande dificuldade fiquei de pé. "Por que estou tão mal?" Ao fazer esta pergunta ví duas garrafas de uísque. "Tá certo... Uísque sempre me faz mal. Tenho que parar de beber. Talvez fazer um esporte, nadar, algo assim. Quem sabe sair com pessoas normais. Que merda eu tenho que mudar..." Escutei de novo aquela voz que me fez perder a linha de pensamento." Aquela voz de filho da puta. Eu estava chegando em algo." Caminhei em direção da voz. Ela foi ficando cada vez mais alta. Mais clara. Dizia:"Socorro! Socorro!" Comecei a correr, suava frio. "Desta vez eu me fudi! Eu sou foda mesmo!" Cheguei a uma porta na cozinha que dava para o pátio. A voz saía de lá. Peguei uma faca. "De quem será a porra dessa casa?" Passei a porta para a rua gritando: "Pare aí mesmo!"
Para a minha surpresa conhecia a mulher. Era Linda, a mulher daquele pintor filho da puta que sempre uxa meu saco. Logo ele correndo atrás dela com um pincel sujo de tinta vermelha. "Isso explica o sangue". Era só uma brincadeira de merda! Perguntei o que havia acontecido comigo. Disseram que eu havia bebido demais no bar, não consegui ir para casa e eles me acolheram. Aquela mesma porcaria de sempre. Fiquei tranquilo então.
Pedi uma carona até o bar. Peguei meu carro. Botei uma música calma e fui dirigindo devagar para casa. "Porra eu ando fazendo muita merda. Não posso ser assim. Preciso melhorar. Fazer excercícios ou sei lá. Mudar de vida! Que merda isso... é tão estranho. Odeio essas merdas de Déjà Vu!"

Friday, January 26, 2007

Fenômenos da Tua Natureza.

Quero ser levado pelo furacão do teu ser amável
Quero me queimar na tua lava fervente,
De tom gentil análogo ao que é detestável
Me queima! Lança teus raios luminosos que me tornam gente
Quero sentir a dor da tua energia
Te quero como meu Deus, mesmo se me vigias...

Vago pela tua chuva de emoções desvairadas
E entendo a tristeza das tuas tempestades
Mas tiro dela a alegria que não foi encontrada
Mesmo que para muitos seja a calamidade
Me mata se este amor é contagioso!
Me enxe da tua caricia e olhar venenoso!


Me destrua mas me faça feliz!

Tuesday, January 16, 2007

Em algum lugar. (1ª bossa)

Pensei que era diferente, mas diferentemente
Do que eu pensei
Sou um sobrevivente
De tudo nesta vida, que um dia amei.
Não sou apenas mal amado
Mas tenho nesta vida: vilipendiado
Novo amor que fora novo descartado
Que me agoniza, que me agoniza, que me agoniza

2X:E só posso estar, em algum lugar, longe de tudo... Longe de tudo.

E agora vou de bar em bar
Sem ao menos estar
Ou me sentir em algum lugar
Pois nesta vida encarar o fardo
já é vitória
E de nós não sobra glória sobre glória
para vomitar, eu vou cair de cara feita
na sarjeta. Na sarjeta?

2X:E só posso estar, em algum lugar, longe de tudo... Longe de tudo.

Novo dia vai e eu me vou
não sei mas nem onde estou
apesar de constantemente
ser imformado
por passantes retardados
que sabem mais que eu
e o novo amor do meu bolso
saiu, sumiu e se perdeu

3X:E só posso estar, em algum lugar, longe de tudo... Longe de tudo.

Friday, January 12, 2007

A cura.

Não havia um vizinho que não o temesse. Era considerado um Louco. Mas fui quem melhor o entendeu...




A primeira vez que o ví foi quando estava sentado, com apenas nove anos, em cima da árvore da frente de sua casa. Senti um grande medo quando correu atrás de mim gritando em completo devaneio. Corrí, corrí como nunca havia corrido. Meu coração desparado, minha cabeça tonta. Parei em frente à pracinha, e contei a todos o ocorrido. Me disseram que ele era louco e que nunca mais devia voltar lá. Pais e filhos brabos comigo. E eu que havia me fudido. Ninguém estava preocupado comigo. Eu, EU, eu fui o grande prejudicado. Ainda me puseram de castigo.
Os dois dias confinado no meu quarto foram angustiantes, queria retornar até lá, queria enfrentar meu medo! Logo no meu primeiro dia de liberdade fiquei horas de tocaia na sua janela. Observei-o o dia todo, cada passo. Não me pareceu tão louco assim. Claro que ele gritava a maior parte do tempo, lavando a louça, escutando música ou fazendo qualquer outra coisa...
Na segunda tocaia comecei a reparar que ele se esforçava para não agir daquela maneira, entretanto os esforços eram em vão. Comecei a sentir pena dele.
No terceiro dia não fui espioná-lo. Apenas isto não bastava. Algo mais interessante era necessário. Filmá-lo? Tirar fotos? Sem filmadora ou máquina fotográfica resolvi fazer o seu diário.
Os dias passavam e era sempre a mesma coisa. As páginas sempre iguais: Ligava uma música, fazia comida, lavava a louça, lia, lia, lia muito, sempre, é claro, gritando coisas terríveis.
Naquele dia 13, nunca esquecerei, quando caí no seu quintal. Machucado não pude pular o muro de volta, então tive que tocar a campainha para ele abrir o portão. Doze minutos fiquei inerte com o dedo próximo ao botão mas sem coragem de apertá-lo. Quando o fiz meu coração parecia que iria parar, sorte que não o fez. Ele abriu a porta já gritando. Pensei em correr mas não tinha para onde. Se controlou um pouco, e disse com esforço: "Desculpe pelo outro dia." Não sabia o que dizer ou pensar. Ele me convidou para entrar. Entrei, não devia, mas entrei. Me disse que sofria deste mal - gritar compulsivamente - e que nem ao menos controlava o que dizia. Que naquele dia quando correu atrás de mim queria avisar-me sobre abelhas que naquela árvore estavam. Achei estranho, pois estava sempre lá e nunca ví uma abelha sequer... Me explicou também que tirou a colméia para não me machucar. Constrangido agradeci. Conversamos mais sobre coisas sem importância, ele soltando gritos ao meio do assunto, e fui para a casa.
Afinal o que era aquilo? Um ser aparentemente tão vil era, na verdade, um ser doce, carinhoso e preocupado com os outros... Tudo, que era pouco, que sabia do mundo parecia errado. Aprendi que, de fato, as aparências enganam.
Comecei a ir na sua casa com frequência, era muito inteligente, me ensinou muito sobre a vida. Me deu livros para ler, músicas para escutar... Se tornou meu ídolo.
Notava que cada vez mais ele gritava menos, havia dias que nem gritava. Finalmente parou por completo com aquela loucura. Estava curado. Dizia que graças a mim, a minha atenção inesperada fez com que ele se libertasse do medo do convívio com as pessoas, e que era por isto que gritava. Na época não consegui entender ao certo sua explicação, mas fiquei feliz por ajudar.
Sempre que podia ia na sua casa, entretanto após dois anos ele se mudou. Fiquei bravo no ínicio mas logo o esqueci.
Hoje dez anos depois encontrei-o no centro da cidade. Gitava feito louco, ainda mais do que antigamente. É um mendigo. Fui até ele. Quando me viu parou de gritar na hora. Me abraçou - estava meio com nojo de suas roupas sujas, mas retribuí - olhou nos meus olhos e disse: "Não se assuste! Louco, gritando, é a única maneira de ser feliz."

Thursday, January 04, 2007

Noite estranha.

Meu coração querendo sair pela boca e eu não consigo me mexer. O pulsar cardíaco meu deixa surdo. Não enxergo nada. Meus olhos repleto de lágrimas. O vento me traz arrepios, arrepios de horror.
Ela, no chão, sentindo nada.
Dói cada milimetro do meu corpo, partes que achei que não podiam doer... Não consigo pensar em nada. Ela está morta! Não sei quem é, mas morreu. Nem ao menos pudo conhece-la. Bem que ela podia ser uma grande filha da puta. Assim espero...
Nauseado fui caminhando até minha casa.
Não consegui abrir o portão. Sorte que meu vizinho chegou pouco depois. Ele deve ter pensado que estava bêbado.. Que, de fato, estava, mas quem é ele para me julgar. Aquele olhar reprovador me deixou furioso. Entrei no meu apartamento, liguei uma música, me deitei.
A raiva me controlava. "Quem ele pensa que ele é?". Não aguentava mais, estava pronto para a briga. Fui para o seu apartamento.
Bati forte na porta. Ele logo abriu, com um sorriso na boca que logo sumiu ao ver minha face enfurecida. Convidou-me para entrar. Entrei. Me ofreceu uma cerveja perguntando a que devia minha visita. Aceitei a bebida e esqueci por qual razão estava lá. "Conversar.". Foi o que respondi sem pensar.
E o fizemos, por muito tempo, quase a noite toda. Contei tudo sobre a mulher morta que ví. Ele ficou horrorizado mas querendo saber cada vez mais, nos mínimos detalhes.
Me despedi e fui correndo dormir.
Noite estrana esta...